"O mesmo material, linguagens diferentes"
No dia 21 de março, a Velha Gaiteira, em Lisboa, abriu as suas portas para a exposição “O mesmo material, linguagens diferentes” de João Saramago e Ricardo Rodrigues.
Os trabalhos apresentados são uma reflexão dos artistas sobre rotinas, “prisões”, fugas e liberdade.
Sobre o ponto de vista estético a obra de João Saramago assenta na criação de padrões abstratos de linhas e círculos que ora se aproximam e cruzam, ora se afastam para se voltarem a encontrar.
Por seu lado Ricardo Rodrigues recorre ao figurativo, apresentando como denominadores comuns às suas obras uma gaiola e um avião de papel (origami), para representação das rotinas “prisões”, fuga e liberdade.
A técnica comum é a utilização de esferográfica “BIC” sobre papel.
Sobre a metodologia para a criação das obras apresentadas, referem os autores:
“ ... Chego a casa, desenho. Uma linha de uma ponta a outra, às vezes do meio para o fim e do fim para o meio. Durante esse tempo, desenho linhas e linhas e círculos e círculos. Vou dormir. Acordo, e desenho círculos e linhas. Vou trabalhar... Chego a casa, desenho linhas dentro de círculos e linhas que saem dos círculos. Acordo. Desenho círculos. São sempre diferentes. Às vezes corto o papel e configuro uma imagem. Um padrão... Encontro na repetição algo novo. Então desenho linhas e círculos, círculos que nascem das linhas, para dentro e para fora. Linhas para fora, do fim ao meio, do meio ao fim.” João Saramago
Ricardo Rodrigues considera que o ponto de partida para os trabalhos que compõem esta exposição é o seguinte texto: “Somos assim: sonhamos o voo mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.” (in Os Irmãos Karamazov, Fiódor Dostoiévski).
Em breve a reportagem fotográfica será publicada no Facebook
Fotografia: João Serra de Almeida